STORYLINE

O processo de criação de uma estátua de Domingos José Martins, e a dramatização intimista de passagens da vida do mártir capixaba, revelam a alienação histórica dos habitantes das falésias onde nasceu o herói nacional, às vésperas da inauguração de seu monumento em Marataízes.


SINOPSE

O documentário “O FILHO DA TERRA” apresenta uma reconstrução dramática de passagens marcantes da vida do revolucionário e mártir capixaba, Domingos José Martins, e que ganham forma ao longo do processo de criação de uma estátua desse herói nacional, em tamanho real, realizada pelo famoso escultor Hippólito Alves. A obra será inaugurada com uma grande celebração cívica na Praia Central de Marataízes, enaltecida como a terra natal de Domingos.  

Enquanto são reveladas situações que ilustram o nascimento e a infância de Domingos no Sítio Caxangá, com belíssimos cenários de falésias, lagunas e da emblemática Praia dos Quarteis, em Boa Vista do Sul, Hippólito manuseia a argila e começa a modelar a escultura monumental. É assim, que avança a construção da obra de arte, com visões e impressões solitárias de Hippólito, em seu atelier de Araguaia, e a narrativa, em paralelo, de uma reconstituição histórica da vida do herói. Contadas em primeira pessoa, de forma poética, intimista e com forte espírito revolucionário, as cenas de sua adolescência em Vitória, dos estudos em Portugal e do trabalho em Londres, cidade onde começou a conviver em ambientes libertários, somam-se à flagrantes da finalização da obra em argila, à confecção do molde em gesso, à tiragem da estátua, e o seu acabamento final. Em ordem cronológica, seguem-se as narrativas dramáticas de todo o processo de implantação do regime republicano com a Revolução Pernambucana de 1817, e a sua derrocada, sob pressão sanguinária da Coroa Portuguesa, com a execução de Domingos Martins em seu ponto mais trágico.

É ao longo dessa narrativa em dois eixos, na qual a ficção permeia a linguagem documental ‘observacionista’, que a memória histórica e a construção do mito através da arte se complementam. Ilustra-se a imagem do herói invisível e o dilema de seu retrato em branco: Domingos José Martins é totalmente desconhecido na terra onde nasceu. É em consequência dessa dicotomia entre arte e história, e entre memória e esquecimento, que o documentário também revela a fisionomia de um grupo de habitantes do distrito de Boa Vista, local onde nasceu Domingos José Martins, e seu pai Joaquim José Martins chefiava um importante Quartel de controle da Capitania do Espirito Santo.  Através de um pescador aposentado de mar e laguna, de um boia-fria da lavoura de abacaxi, de uma professora primária, de uma cantora de um coral evangélico Batista, de um motorista de cana-de-açúcar, e do homem mais velho do bairro de Boa Vista do Sul,  o documentário-ficção “O FILHO DA TERRA” expõe e denuncia o total desconhecimento do papel histórico de Domingos Jose Martins, reconhecido oficialmente, no panteão dos grandes heróis nacionais de Brasília, como figura maior da Revolução de 1817, e mártir do processo libertário que culminou em 22 com a queda da coroa portuguesa e o início do Império no Brasil.

No dia-a-dia de cada um desses personagens, somos apresentados a paisagens naturais com extensas plantações de cana-de-açúcar e de abacaxi, lagunas com capivaras e jacarés, a costa recortada por falésias em frente a Ilha das Andorinhas, ou no contexto de convivência no culto do templo evangélico, na sala de aula do grupo escolar municipal, no bar de encontro dos pescadores, ou no refúgio doméstico solitário dos pacatos anciãos de Boa Vista.  São essas crônicas visuais do cidadão que desconhece sua própria identidade histórica, absorvido pela necessidade de sobrevivência, e submetido a uma espécie de alienação dogmática, que somos levados a tentar redescobrir a imagem perdida de Domingos José Martins. Neste sentido, o documentário “O FILHO DA TERRA” propõe um encontro dos personagens reais de Boa Vista do Sul, com a imagem subjetiva e materializada do herói.  Qual a dimensão do desconhecimento histórico dos filhos de Boa Vista, filhos da mesma terra de Domingos Martins, mas alijados do reconhecimento de suas verdadeiras identidades como cidadãos?  

 

beloze produções brasil