No dia 6 de março de 1817, a Capitania de Pernambuco desperta com o brado
heroico de liberais e republicanos, que conclamam a população da Vila do
Recife, à insurgência contra o absolutismo monárquico português. São inúmeros os motivos de
descontentamento diante das injustiças cometidas pela Família Real e sua
comitiva, instalados no Brasil desde 1808, como reação do príncipe regente
D.João, às ameaças sofridas em Portugal por Napoleão Bonaparte. Os gastos excessivos da Corte no Rio de Janeiro, manipulados
pela presença maciça de portugueses nos cargos de liderança e na administração
pública, além da criação de impostos exorbitantes e descabidos, e de atrasos no
pagamento dos soldados da Capitania, geravam
indignação nas elites comerciais e nas camadas mais populares. A fome e a
miséria provocadas pela Grande Seca de 1816, com uma queda brusca na produção
de açúcar e de algodão, com a economia afetada pela concorrência do algodão dos
Estados Unidos e do açúcar da Jamaica, facilitam a proliferação de ideais liberais
e iluministas. São intensas as pressões abolicionistas na Europa, com o setor
econômico pernambucano ainda mais comprometido, diante de possíveis restrições
ao tráfico de escravos, e um subsequente aumento no preço da mão de obra. Também conhecida como a Revolução dos Padres, o movimento
sofreu forte influência das ideias iluministas das sociedades
maçônicas, e tornou-se o único movimento genuinamente revolucionário, que conseguiu
ultrapassar a fase conspiratória, e conquistou o poder. A República foi
proclamada pela primeira vez no Brasil.
Um incidente no regimento de
artilharia deu inicio à ocupação do Recife pelas tropas revolucionárias.
Acompanhado por um grupo de insurgentes, o capitão José de Barros Lima,
conhecido como "Leão Coroado", matou a golpes de espada o comandante Barbosa
de Castro. Em seguida, o pelotão de rebeldes conquistou definitivamente o
quartel central, e montou trincheiras para conter o avanço das tropas
monarquistas. O movimento tinha como um de seus principais lideres o militar e
comerciante capixaba Domingos José Martins, apoiado pelo Padre João Ribeiro, e
por personalidades como Domingos Teotônio Jorge, Vigário Tenório, José Luís de
Mendonça, José de Barros Lima, Padre Miguelinho, Padre Roma, Antônio Henriques
Rabelo, Gervásio Pires, Antônio Carlos de Andrada, Manuel Corrêa de Araújo,
José de Barros Falcão de Lacerda, Cruz Cabugá, Vigário de Santo Antônio e Frei
Caneca.
Na madrugada do dia seguinte, os enfrentamentos entre governistas e
milícias rebeldes, marcaram a conquista definitiva do Recife pelo movimento
republicano. Os tiros de mosquete e pistola atravessaram a noite, com badaladas
de sinos que ressoavam sem parar. As Vilas de Recife e de Olinda viviam o
início de uma nova era de liberdade e conquistas. Com a ocupação da Casa do
Erário, e o confisco do Tesouro Régio, uma bandeira branca foi hasteada, como
primeiro signo da recente revolução.
Destituído o Governo servil e
fiel à Coroa Portuguesa, e conquistado o poder popular, foi convocada uma
reunião das lideranças, em regime de urgência, e instalado um governo
provisório, com a Proclamação da República. A convocação de uma Assembleia
Constituinte, composta por representantes de todas as comarcas, aconteceu no
dia 29 de março. Em ato de celebração patriótica, foi lavrada a separação dos
poderes Legislativo, Executivo e Judiciário, mantida a liberdade de culto, com
o catolicismo como religião oficial, a liberdade de expressão e de imprensa, e
a supressão de impostos abusivos. O sentimento de nacionalismo do povo
pernambucano, incitava a discussão e o debate ufanistas, contrários à opressão
e aos abusos da corte portuguesa.
A república
parece cada vez mais consolidada com a adesão da Paraíba, do Rio Grande do
Norte e do Ceará, e a sensação é de que os ideais de “liberdade, igualdade e
fraternidade” se difundem amplamente por todo o sertão. Respira-se liberdade
por toda a Capitania, apesar das consequências da seca ainda comprometerem o
comércio de açúcar e algodão, e um exército mal treinado e sem armas, e
nitidamente debilitado, diante de um eventual contra-ataque da Coroa. O primeiro sinal de resistência da monarquia,
veio com uma tentativa frustrada de adesão da Bahia, que acabou com a detenção
de José Inácio Ribeiro de Abreu e Lima, o Padre Roma, e seu imediato
fuzilamento, por ordem do Governador português Marcos de Noronha e Brito, o
Conde dos Arcos.
O Governo Republicano é forçado a tomar
medidas urgentes, diante de uma possível reação de Portugal, e um
enfrentamento com as tropas de Don João VI.
Assim, em maio de 1817, Antônio Gonçalves da Cruz, o Cruz Cabugá, parte
para os Estados Unidos, com cerca de 800 mil dólares na bagagem. A missão de
Cabugá era comprar armamento e munição, e recrutar revolucionários franceses
para libertar Napoleão Bonaparte, exilado na Ilha de Santa Helena, a levá-lo para Pernambuco. Todos acreditavam
que a experiência militar de Napoleão, e um apoio diplomático norte-americano,
poderiam intimidar uma investida massiva por parte das tropas da coroa. Mas o
futuro da revolução de 17 já parecia fadado ao fracasso, e uma forte investida militar
começa a avançar por terra, com um contingente de 8 mil soldados bem armados,
cercando a Capitania de Pernambuco.
Na tentativa de evitar a invasão das tropas
pelo sul, uma batalha é travada na Vila de Ipojuca, mas derrotados, os soldados republicanos são
obrigados a recuar para o Recife. Sem
capacidade de resistência militar, e com uma força naval da coroa bloqueando o
abastecimento de bens e a entrada de alimentos pelo porto, a fome se espalha
entre a população mais vulnerável, e no dia 19 de maio, o Recife volta a ser
controlado pela monarquia. Isolado, o
governo provisório consuma sua rendição
no dia seguinte.
Uma reação violenta fecha o cerco
contra as lideranças do movimento, e tem início um ciclo de prisões e de
execuções de lideranças do governo republicano. Tropas da monarquia, sob o
comando do general Luís o Rego Barro, engrossam o contingente militar por
terra, com apoio de mais navios vindos do Rio de Janeiro. Tem inicio o sequestro de bens, e um sem fim
de ações de impunidade, com estupros, maus-tratos à mulheres e crianças,
tortura, censura de imprensa, e violações das liberdades individuais
conquistadas pela recente constituição republicana. Quatorze revoltosos são executados pelo crime
de lesa-majestade, a maioria enforcada e esquartejada, e alguns executados por
fuzilamento. Centenas de mazombos morrem
em combate ou torturados em masmorras. O
suicídio do Padre João Ribeiro é marcado por requintes de crueldade, seu corpo
sendo desenterrado, esquartejado e sua cabeça exposta em praça pública. Vigário
Tenório é enforcado e suas mãos decepadas, com o corpo arrastado pelas ruas do
Recife. Era visível a intenção de Don João de fazer exemplar a mutilação do
movimento, e afastar definitivamente qualquer nova tentativa de insurreição
republicana no Brasil.
Em sua ultima tentativa de resistir
ao autoritarismo português, Domingos José Martins é preso em Porto de Galinhas,
na Paraíba, no comando de um pequeno grupo de homens sem preparo militar e
quase sem armas e munições. O herói da Revolução Pernambucana de 1817 é levado
para Salvador, e após julgamento sumário, é condenado à morte por crime de
lesa-majestade, e fuzilado no Campo da Pólvora.
Nascido em 1967, em Anchieta, cidade que exerce forte influência em
sua obra como escultor, Hippólito Alves é considerado um dos maiores expoentes
do cenário artístico capixaba e nacional. É inegável o reconhecimento de sua
obra por parte da crítica, com especial destaque para suas estátuas e bustos de
personagens icônicos de nossa história.
Sem que tome para si e denominação de santeiro, ele também se destaca
por uma importante produção de arte sacra, que confere à sua trajetória um
vínculo estreito com o místico e as crenças populares. Autodidata, começou sua
carreira como pintor, mas logo em seguida começou a se dedicar às esculturas
com forte influência de Sacro Barroco. Com ateliers em Cariacica e em Araguaia,
no Município de Marechal Floriano, o artista produz suas peças em harmonia com
duas atmosferas, que segundo ele são complementares, a urbana e a bucólica. Diante de um processo criativo de recolhimento
quase espiritual, seu atelier passa a transbordar a dimensão de uma espécie de
refúgio solitário, onde executa cada um de seus projetos.
Foi com obras como a estátua e os painéis em bronze de São José de Anchieta,
localizadas na ladeira do Santuário Nacional de Anchieta, que o escultor
alcançou o reconhecimento internacional. Com obras e exposições em diferentes
locais pele Brasil, está assinada por ele a primeira estátua, em escala natural,
de Vasco Fernandes Coutinho, exposta na Casa da Memória, na Prainha em Vila
Velha, assim como a estátua de Luiza Grimaldi, a primeira mulher a comandar uma
capitania, e que governou o Espírito Santo entre 1589 e 1593.
A obra de Hippólito Alves apresenta também um grande acervo
de arte sacra, com imagens de corpo inteiro e bustos de Cristo, representações
da Virgem Maria e de santos, sempre ao estilo formal do devocionário religioso.
“Em meu atelier, vivo cercado por uma verdadeira corte celestial. Assim, vou
dando vida à cada nova escultura inspirada em escolas clássicas, como o Barroco
brasileiro. ”
Responsável por inúmeros trabalhos de restauração para importantes igrejas e comunidades católicas do Espirito Santo, o artista criou o relicário que abriga as relíquias de São José de Anchieta (1534-1597). "Tenho muita honra de saber que uma obra feita por um artista capixaba irá percorrer o mundo", afirma o escultor, complementando ainda, que sua carreira vem sendo marcada por um diálogo permanente entre a transcendência oculta da arte e o universo espiritual presente em seu processo de criação. “Minha incursão na arte sacra veio nos anos 90, quando realizei um trabalho de restauração no Convento da Penha, em Vitória. À medida que eu trabalhava, fui me apegando à temática sacra", relembra.
Discreto e reservado, Hippólito Alves prefere não pensar em
sua obra como o resultado de um processo intelectual e artístico. Segundo ele,
é a manifestação de suas experiências e vivências, o que faz com que sua
escultura ganhe vida no atelier, um local onde bustos e estátuas de personagens
históricos convivem em plena harmonia com anjos e santos. ”
Próximo à divisa com o Município de
Presidente Kennedy, o Bairro de Boa Vista do Sul está situado em uma zona
rural, à 12 km do Centro de Marataízes, e com acesso através da E-60, mais
conhecida como a Rodovia do Sol. A área urbana de Boa Vista é cortada pela
rodovia estadual, concentrando a maior parte de sua população na parcela
próxima ao mar. A parte acima da rodovia apresenta uma baixa densidade
demográfica, e agrupa boa parte das lavouras de abacaxi e de cana-de-açúcar da
região. O bairro não possui posto policial e nem cemitério. Boa vista conta com
uma unidade da ESF (Estratégia Saúde da Família), posto
de saúde municipal com serviços médicos em atenção
primária, imunização e serviço de atenção pré-natal, parto e nascimento. De acordo com o Censo Escolar 2021, do
INEP (Instituto Nacional de Estudos e Pesquisa Educacionais), a escola
municipal de Ensino Infantil e de Ensino Fundamental de Boa Vista do Sul, conta
com cerca de 369 alunos e 6 professores.
O setor econômico
Boa Vista do Sul apresenta uma pequena atividade comercial de mercadinhos,
padaria, peixaria, bares, e serviços essenciais como mecânica, farmácias e
armarinhos de bugigangas. Sua atividade principal está concentrada no trabalho
temporário nas plantações de abacaxi e de cana-de-açúcar, com escoamento da
produção de cana direto para a Usina Paineiras. A pesca, que em tempos remotos era
uma atividade bastante lucrativa na lagoa e no mar, está hoje em plena
decadência. É com o turismo sazonal da alta temporada de verão, que a oferta de
trabalho e a geração de recursos aumenta, com bares de praia, pousadas e uma
área camping.
O Monumento Natural das Falésias foi criado em 2008, sob
o controle da Secretaria Municipal do Meio Ambiente, de Marataízes. O monumento
conta com uma área preservada de 42.20 hectares, e integra o Corredor Ecológico
da Mata Atlântica Central. A área de reserva compreende um conjunto de falésias
que alcançam até 30 metros de altura, com sedimentos da era geológica do
Mioceno, com cerca de 24 milhões de anos. Apesar de sua proteção legal,
as falésias vêm sendo cada vez mais ameaçadas pela erosão constante, decorrente
em grande medida pelas alterações provocadas pelo câmbio climático. É na região
das falésias que está a conhecida Praia dos Quarteis, onde Domingos Jose
Martins nasceu em 1781. Além do Monumento das Falésias, outro ponto natural
importante é a Praia de Boa Vista do Sul, com quase 6 km de extensão, conectada
à Lagoa de Boa Vista, atualmente contaminada por um alto nível de poluição, provocado
pelo lançamento indiscriminado de esgoto in natura.
A ocupação da zona rural em Boa Vista do Sul segue a
mesma linha de outras regiões do Município de Marataízes. Segundo o Atlas da Mata Atlântica (IEMA
2017), uma análise comparativa dos remanescentes florestais da região, mostra
que a Mata Nativa em Estágio Inicial de Regeneração aumentou apenas 0,1% (15,6
ha), enquanto as áreas de Macega, infestadas de capim grosso e fibroso, e pela
conhecida cana brava, aumentaram em 1,9% (256,5 ha). De acordo com a
classificação de uso do solo, feita a partir de 2012, Marataízes tem como
principais culturas agrícolas a cana-de-açúcar e o abacaxi, que ocupam, respectivamente,
21,9% e 18,2% do território. A cultura do abacaxi merece destaque devido à
expansão de 1.302,7 há de terras cultivadas, o que representa 10% da área total
do município.